ATUALIZADO: 24 de maio de 2018
Como teólogo, o norte-americano Corey Latta sempre esteve certo da definição de um ser que reflete a imagem e semelhança de Deus: alguém que é racional, que se comunica, que ama, que é criativo e tem vontades próprias.
Mas todos os seus conceitos teológicos mudaram depois que ele se tornou pai de Augustus, uma criança que nasceu com síndrome de Down.
“Até então, a meu ver, a inteligência, a racionalidade e a linguagem eram um padrão de competência. Aqueles que eram mais capazes de demonstrar essas características, melhor refletiam a imagem de Deus. Mas Gus, com sua língua saliente, postura desajeitada e tentativas inarticuladas de falar, me trouxe novas perguntas”, disse ele ao Christianity Today.
“Como as pessoas com síndrome de Down — como meu filho — carregam a imago Dei (‘imagem de Deus’ em latim)? Olhar para a imagem de Deus somente através dos olhos de aço da doutrina me deixou com uma espécie de astigmatismo. A vida me ofereceu o corretivo da experiência”, confessa Corey.
Mesmo com bacharelado em estudos bíblicos, mestrado em estudos do Novo Testamento, e doutorado em literatura, Corey aprendeu que sem vivenciar experiências, nenhum conhecimento é completo.
“O que vi analisando minha experiência com Gus foi algo que nunca vi olhando para ele”, observa o pai. “Seu atraso no desenvolvimento cognitivo e seu atraso na compreensão expressiva perturbaram minha avaliação de como deveria ser a imagem divina. Mas ao longo da minha experiência com Gus, eu vi mais. Eu vi inocência”.
“Inocência é uma simplicidade que vem da falta de conhecimento ou compreensão, resultando numa ingenuidade inofensiva”, Corey explica. “No caso das pessoas com síndrome de Down, a inocência existe por causa da ausência da competência de sentir vergonha. Eles são ingênuos à malevolência e à imoralidade”.
O teólogo esclarece que não quer dizer que as pessoas com síndrome de Down não são pecadoras. “Uma condição genética não nega um estado espiritual. Mas o pecado se manifesta de maneira diferente nas vidas daqueles com Trissomia 21”, observa.
Com sua experiência, Corey percebeu que sua propensão para o pecado era reforçada pelo intelecto e astúcia — algo que não é tão presente em seres especiais. “As pessoas com síndrome de Down não entendem e nem praticam a malícia, a ganância, o ciúme ou o engano como os outros fazem. Elas falam com uma honestidade desmascarada. Elas amam sem os danos pretensiosos e auto-protetores que mancham nossos relacionamentos”.
“Pessoas com síndrome de Down carregam a imagem de Deus em corações sem culpa. Não é de sua natureza seguir o conselho dos ímpios, imitar a conduta dos pecadores ou se assentar na roda dos escarnecedores”, o teólogo acrescenta.
“Eu raramente vejo o tipo de inocência de Gus em qualquer outro lugar. Mas olhando a necessidade especial do meu filho, a imagem de Deus preenche meu campo de visão. Quando Gus está animado, ele agita os braços em qualquer cerimônia indigna de liberdade. Se seus irmãos pegam um brinquedo dele, Gus retribui o gesto com os olhos brilhantes. Ele fica feliz por seus irmãos serem felizes com algo que ele estava desejando há pouco. Não há negociação em suas necessidades; ele as compartilha sem desculpas. Ele grita de alegria sem constrangimento quando me aproximo, chora de coração quando preciso ir embora e acredita que até a ausência deve ser um ato de boa vontade”, avalia.